Animais feridos, queimados, desidratados, exaustos. O Pantanal, um dos maiores ecossistemas do país, arde em chamas. As imagens chocam e revelam mais uma tragédia ambiental sem precedentes.

A região registra o maior número de queimadas da última década.  A estimativa é de que o fogo já se alastrou por 64% dos 108 mil hectares do Parque Estadual Encontro das Águas, nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço, no Mato Grosso do Sul. Várias espécies como araras-azuis, onças pintadas, jacarés, entre outras, estão morrendo e sendo afetadas.

A imagem captada por uma reportagem do jornal Estadão de uma onça com as patas queimadas sendo socorrida é simbólica sobre a situação da fauna local, mas as queimadas também ameaçam brutalmente a vida de comunidades locais, principalmente população ribeirinha.

O fogo atinge a área desde meados de julho, mas a inércia e descaso do governo Bolsonaro agravou ainda mais a situação. Não é para menos. À frente do Ministério do Meio Ambiente, Bolsonaro mantém Ricardo Salles, o ministro que defendeu que o governo deveria aproveitar o momento da pandemia para “passar a boiada” e flexibilizar a fiscalização e leis ambientais no país. Salles é conhecido por atuar a serviço de interesses de mineradoras, madeireiras, ruralistas e grileiros em geral.

Cortes de verbas e flexibilização da fiscalização

Apesar de queimadas ocorrerem anualmente no Pantanal, especialistas apontam que o aumento recorde nos incêndios tem a ver com uma combinação de descaso do governo e ações criminosas.

O Ibama e o ICMBio (Instituto Chico Mendes), órgãos do governo responsáveis pela prevenção, conservação e fiscalização do meio ambiente tem sido literalmente sucateados.

Dados do próprio governo revelam que o orçamento para contratação de pessoal de prevenção e controle de incêndios florestais sofreu uma brutal redução de 2019 para 2020.

Mesmo com as queimadas na Amazônia que ganharam as manchetes em todo o mundo desde o ano passado, e agora no Pantanal, houve uma redução de 58% nos investimentos. Segundo o Portal Transparência, o gasto caiu de R$ 23,7 milhões em 2019 para R$ 9,9 milhões este ano.

No último dia 28 de agosto, Ricardo Salles chegou a anunciar a suspensão das operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e às queimadas no Pantanal, alegando o bloqueio financeiro de R$ 60 milhões feito pelo governo na Pasta.

Os recursos seriam destinados ao Ibama e ao ICMBio. Antes, a presidência já havia retirado outros R$ 120 milhões da área do meio ambiente do orçamento previsto para 2021. Acuado por críticas, o governo anunciou que não iria mais contingenciar o orçamento do setor.

“A falta de fiscalização e a interferência politica na atuação dos servidores do Ibama e do ICMBio para favorecer madeireiros, garimpeiros, madeireiros e ruralistas estão presentes nos discursos de Bolsonaro, Mourão e Ricardo Salles. O ministro do meio ambiente, inclusive, é investigado pelo Ministério Público Federal. O avanço do fogo destruindo fauna e flora abre espaço para pastagens e campos de grãos para alegria dos ruralistas”, destaca o advogado e integrante do Setorial do Campo da CSP-Conlutas Waldemir Soares Jr.

“A devastação nas florestas e áreas de matas no país ocorre apesar de Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão fazerem propaganda de que o Exército está atuando na operação Verde Brasil 2, ao custo de R$ 60 milhões mensais, para preservar a Amazônia. O fato é que a política deste governo está destruindo o meio ambiente e não é à toa que o governo brasileiro é alvo da campanha internacional de denúncia”, complementou.

“O pior é que enquanto nossas matas e florestas queimam, esse governo faz piada, espalha fake news, num descaso criminoso. Para preservar o meio ambiente e defender o país, é preciso por para fora Bolsonaro, Mourão, Salles e toda a corja deste governo”, concluiu Waldemir.

Via: CSP-Conlutas.