Desde a noite de terça-feira (3), 13 municípios do Amapá estão sem energia elétrica após um incêndio na subestação da empresa Isolux, contratada pela União e que atende ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A situação causou uma interrupção de 250 MW de carga elétrica, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Sem o restabelecimento da energia, a população amapaense sofre com crise de desabastecimento há quase uma semana.

No sábado (7), a Justiça Federal determinou um prazo de três dias para que o apagão no Amapá seja completamente solucionado, com 100% da eletricidade restabelecida, sob pena de multa de R$ 15 milhões. Também ficou decidido que a empresa privada Isolux, responsável pela administração da subestação, deve apresentar em até 12 horas um plano de ações para o restabelecimento de serviço e que deve receber sanções contratuais. A empresa ainda não se pronunciou sobre a decisão. Segundo informações da Agência Brasil, na subestação incendiada, havia um transformador que estava parado com defeito desde dezembro do ano passado. A manutenção dos equipamentos cabe à empresa de transmissão, a Isolux.

Um dia após a sentença, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) iniciou um sistema de rodízio do fornecimento de energia. Segundo a empresa, oito municípios estão em rodízio de energia em intervalos de seis em seis horas: Macapá, Santana, Tartarugalzinho, Amapá, Calçoene, Ferreira Gomes, Porto Grande e Serra do Navio. A carga energética não é suficiente para atender a toda a população afetada, apenas a 60% dela. Moradores que participam do rodízio denunciam que há regiões onde a energia voltou por apenas 2 horas.

Quase 90% da população do Amapá, de 861 mil habitantes, está sem eletricidade em suas casas.  A capital Macapá, com 513 mil pessoas, foi a cidade mais afetada pela queda de energia que impactou o funcionamento de mercados, caixas eletrônicos, hospitais, abrigos, sistema penitenciário, serviços de captação de água, tratamento, distribuição e também de esgoto. Há relatos também de falta de combustível e de velas. Sem energia, os moradores estão perdendo alimentos e permanecem sem comunicação.

Segundo Paulo Cambraia, presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Amapá (Sindufap – Seção Sindical do ANDES-SN), a situação é grave no estado e para a população mais carente essa realidade tem sido pior. 

“Para as pessoas que moram nas periferias, o apagão tem sido terrível. Além da falta energia, elas estão sem água potável para beber, houve um aumento exorbitante nos preços dos produtos, principalmente, nos galões de água. Há denúncias de que nos bairros em que residem políticos a energia tem ficado 24 horas. Nos últimos dias têm ocorrido várias manifestações e as forças repressivas do estado têm atuado de forma violenta para reprimir uma manifestação que é legítima”, disse. “Há relatos de feridos graves, como o de um garoto de 13 anos atingido no olho por uma bala de borracha”, completou.

Omissão
Desde o incidente no dia 3 de novembro, internautas denunciam o descaso dos governos federal, estadual e dos meios de comunicação com a situação. Para eles, se o apagão tivesse ocorrido em estados das regiões Sul e Sudeste, haveria comprometimento em solucionar o caso de forma rápida e efetiva.

O Ministério de Minas e Energia demorou a apresentar alternativas para a recuperação da energia elétrica no Amapá. Apenas no dia 5 de novembro é que o ministro, Bento Albuquerque, esteve no estado com o governador Waldez Góes (PDT). Foram apresentados planos de recuperação do serviço. O fornecimento de 100% da energia só será retomado em 15 dias e a segurança do sistema elétrico só estará estabelecida em 30 dias, quando um transformador, trazido de Boa Vista (RR), for instalado. Já o presidente Jair Bolsonaro apenas se manifestou sobre o caso na sexta (6), após pressão da sociedade e do governador do estado assinar um decreto de situação de emergência para a liberação de recursos para viabilizar soluções urgentes para os problemas relacionados à falta de energia elétrica no Amapá.

Covid-19
Para piorar a situação, a prefeitura tem disponibilizado água à população em carros pipa de uma forma que provoca aglomerações. Ao invés de fazer a distribuição de água diretamente nos domicílios, tem obrigado a população a se deslocar, causando grandes filas. O governo do estado interrompeu a divulgação dos dados sobre o coronavírus desde o dia 3.

Nas últimas semanas, os casos de Covid-19 aumentaram. A prefeitura, por meio de decretos, prorrogou a suspensão de todo tipo de atividade política de campanha eleitoral que gere aglomerações como adesivagem, comícios e caminhadas. Assim como suspendeu o funcionamento presencial de atividades esportivas em academias, esportes de contato e ao ar livre.

“Nós do Sindufap SSind. estamos com uma campanha de solidariedade que arrecada cestas básicas para os trabalhadores desempregados, em virtude da pandemia da Covid-19. Continuaremos atendendo essa rede de pessoas e, agora, vamos ampliar para o contexto do apagão. Nós próximos dias, com a contribuição financeira significativa da Adufpa SSind., vamos fazer a aquisição de mais cestas básicas e água mineral para atender essa parcela da população”, concluiu Paulo Cambraia.

ANDES-SN contra a privatização
O ANDES-SN sempre foi crítico ao processo de privatização das estatais, iniciado nos anos 1990, com governos neoliberais, e que prossegue até os dias atuais. Crimes sociais e ambientais têm sido comuns por parte de empresas privatizadas, como é o caso do rompimento das barragens nos municípios de Mariana (MG) em 2015, da mineradora Samarco S., e Brumadinho em 2019, da Vale S.A, empresa criada a partir da privatização da então empresa estatal brasileira Companhia Vale do Rio Doce. Ainda sobre a decisão judicial de sábado (7), foi requisitado a Polícia Federal que apure se houve crime ou não no evento, por parte da Isolux, que resultou na interrupção de energia no Amapá.

Com informações do Governo do Estado do Amapá, Prefeitura, Agência Brasil e Congresso em Foco

Via: ANDES-SN.