Neste domingo (25), vai ser realizada a XXII Caminhada em Memória aos Mártires do Massacre no Rio Cururupe. O evento terá início às 08h30, com saída da Igreja Nossa Senhora da Escada, na Praça de Olivença.

Como um marco na história de resistência dos tupinambás e demais povos originários da região, o massacre do Cururupe ocorreu em 1559, quando o então Governador Geral da Bahia Mem de Sá viaja de Salvador para Olivença, executando todo indígena que encontra pelo caminho. O genocídio é contado pelo próprio Mem de Sá, em carta enviada ao Rei de Portugal.

Conversamos com o Professor Casé Angatu, morador da Aldeia Gwarïnï Taba Atã e membro do DFCH/UESC e do PPGER/UFSB. O docente critica a forma como livros de história relatam o massacre:

“Nossos parentes que sobreviveram ao ataque inicial foram à caça do governador, mas acabaram caindo em um cerco no Rio Cururupe, sendo obrigados a nadar. Por isso muitos livros colocam como batalha dos nadadores. Mas não foi uma batalha. Batalha é quando você tem armas iguais, o que ele fez foi um massacre”.

Sobre a caminhada, Casé explica a motivação do percurso:

“Mem de Sá narra na carta que enfileirou os corpos em uma distância de mais ou menos 7km. Por isso nossa caminhada sai de Olivença e se encerra no Cururupe, que dá cerca de 7km”.

Ouça o Boletim Informativo da ADUSC especial sobre a XXII Caminhada:

Outra motivação para a caminhada é a memória do Indígena Caboclo Marcelino. Nas décadas de 30 e 40, Marcelino se revolta contra os coronéis do cacau, por ser contra a construção da ponte sob o Rio Cururupe.

“Marcelino é preso, torturado, acusado de comunista pela lei de segurança nacional. Conta a história que ele foi deixado nas margens do Rio Cururupe e desapareceu. Então, a caminhada também relembra a resistência do Indígena Caboclo Marcelino”, destaca Casé.

O resgate histórico da luta dos povos indígenas se associa aos recorrentes ataques que diversas aldeias têm sofrido pelo Brasil. No extremo sul da Bahia, uma ação violenta de pistoleiros levou à morte um garoto de 14 anos de idade e feriu outro adolescente pataxó:

“Tivemos acesso à gravação dos pistoleiros, falando que iriam meter tiro mesmo. Nossos parentes pataxós ainda estão sob ameaça, pois eles sabem quem somos nós, mas nós não sabemos quem são eles. O Estado da Bahia e o governo federal na mão desse fascista não nos protegem. Por isso não podemos ter o segundo mandato do atual presidente da República. Nós vamos morrer!”, alerta o professor Casé.

Um manifesto em apoio às comunidades indígenas de Olivença e do extremo Sul da Bahia foi publicado nesta sexta-feira (23) pelos Grupos de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) da ADUSC e do SINDIUFSB, seções sindicais do ANDES-SN. No documento, os coletivos se comprometem a acompanhar e prestar apoio na luta pelo território e pelo direito à vida dos povos indígenas (leia aqui).