Nesta quinta-feira, 13 de Maio, as ruas serão tomadas em reação ao genocídio negro, para que não aconteçam mais chacinas como a de Vigário Geral, os “crimes de maio”, a do Carandiru e, agora, a do Jacarezinho. O sangue vermelho, que de muito escorrer pelas ruas, os braços em riste e a alma preta estarão como protagonistas.

A falsa abolição de 13 de maio de 1888

Historicamente, no Brasil, o dia 13 de maio não é comemorado como dia de libertação dos escravos negros por um motivo: não houve uma real abolição da escravatura em 1888. A assinatura da Leia Áurea pela princesa Izabel não impediu que negras e negros continuassem escravos e, sem qualquer indenização, fossem jogados nas ruas diante da fome, doenças, falta de moradia e preconceito.

Desde então, são 133 anos de uma trajetória de violências, vidas roubadas, perseguições pela cor de pele, ausência de oportunidades, o sacrifício como vida cotidiana.

Referências como Zumbi dos Palmares e Dandara; as revoltas das Carrancas, em Minas Gerais, dos Malês, na Bahia, da Balaiada, no Maranhão, o Dragão do Mar, no Ceará, e muitas outras foram necessárias para que esse povo se armasse de coragem e luta para sobreviver.

Ao povo negro nada foi dado, tudo foi arrancado à custa de muitas batalhas. E se a história pregressa contou com garra e dor, a história recente não é diferente.

Ao povo negro: racismo e violência

A vida cotidiana nos quilombos e nas periferias urbanas enfrenta a violência policial, a péssima qualidade de moradia, as chacinas, a saúde e a educação públicas precarizadas, o desemprego e a informalidade no dia a dia do povo negro.

O Rio de Janeiro é uma expressão dessa realidade com suas inúmeras favelas e chacinas. Seja a das onze crianças assinadas na Candelária ou os 21 moradores da favela de Vigário Geral, ambas em 1993, ou os 28 assassinados no Jacarezinho na semana passada. O governo de Wilson Witzel, com a benção de Bolsonaro e Mourão, tratou a segurança pública como “guerra ao crime” tendo como conceito de criminoso o povo preto e pobre.

Algumas dessas mortes tomaram os telejornais como as 80 balas descarregadas no músico Evaldo dos Santos Rosa; a morte da menina Ágatha Vitória Félix, de oito anos, no morro do Alemão; a invasão da casa do adolescente João Pedro Matos Pina, de 14 anos. Desta mesma forma age o atual governador Claudio Castro. Uma política que fortalece as milícias na disputa pelo comando do tráfico de drogas e armas no Rio de Janeiro.

No último dia 6 de maio, foi a vez dos moradores do Jacarezinho sentirem escorrer o sangue pelas ruas, pelas casas, rodeados pelo barulho ensurdecedor dos tiros de fuzis e das granadas. Três caveirões e mais de 300 policiais espalhados pela favela. Um saldo de 28 pessoas mortas e mais de 30 feridas. Violência tamanha acontece mesmo após o STF (Supremo Tribunal Federal) proibir a intervenção em favelas em decorrência da pandemia do coronavírus.

Para além da violência direta que fere, que mata a bala, há a violência da ausência de políticas públicas. O capitalismo se nutre das opressões machista, homofóbica e racista para dividir a nossa classe para melhor explorar e oprimir negros e negras.

O negacionismo que mata de fome e por Covid-19

O negacionismo promovido pelo governo Bolsonaro diante da pandemia da covid-19 já resultou em 15,2 milhões de infectados e mais de 423 mil mortes no Brasil. A maioria delas entre a população que depende da saúde pública, onde os hospitais não tem sequer leitos para atender os contaminados pelo vírus.

A ausência de um lockdown com auxílio emergencial digno que permitisse o povo pobre ficar em casa para se proteger da pandemia, e a permissão aos empresários para demissões e redução de salários e direitos está levando os trabalhadores à fome. Atualmente, 19 milhões de pessoas passam fome e mais de 116,8 milhões de brasileiros enfrentaram algum grau de insegurança alimentar nos últimos três meses de 2020. Há mais de 70 milhões de desempregados. É neste cenário que se insere o povo negro.

São as mulheres negras que trabalham como domésticas, se arriscam no transporte público durante a pandemia para atender suas patroas. São os negros que estão em maioria nos trabalhos terceirizados com milhares de jovens vivendo por um “salário de fome”, um salário que “só dá para comer”, denominado de “escravidão por ganho”.

O tom da resistência negra

Mas para enfrentar toda essa violência se forjam redes de solidariedade e luta por justiça aos seus mortos. Assim aconteceu com as Mães de Acari, as Mães da Maré e Manguinhos, no Rio de Janeiro, e as de Mães de Maio, em São Paulo. A luta por justiça as move e como disse Débora Maria da Silva, uma das Mães de Maio: “meu filho morreu porque era preto”. Débora vive para honrar a memória de seu filho, o gari Edson Rogério Silva dos Santos, que foi uma das vítimas dos chamados “Crimes de Maio”, ações atribuídas a grupos de extermínio em resposta a ataques do Primeiro Comando da Capital, o PCC, em São Paulo.

São essas expressões de luta, assim como os que lutaram por justiça a George Floyd nos EUA que dão o tom da resistência negra.

Após os protestos que aconteceram no Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais contra a chacina do Jacarezinho, novas manifestações unificadas estão marcadas para este 13 de maio em pelo menos 15 estados. Com máscara, álcool em gel, distanciamento social e sem a presença de militantes com comorbidades, serão realizados protestos.

A CSP-Conlutas está nessa luta. Vamos defender já:

– Apuração e punição dos assassinos dos jovens negros da favela do Jacarezinho;

– Vacina já e emprego para juventude pobre;

– Auxílio emergencial de um salário mínimo;

– 40 dias lockdown e Greve Geral Sanitária;

– Fora Bolsonaro e Mourão, já!

Via: CSP-Conlutas.