O presidente Jair Bolsonaro promoveu 245 ataques contra o jornalismo e jornalistas nos primeiros seis meses do ano. É o que aponta o levantamento divulgado nesta quinta-feira (2) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, neste ano.

Do total de ocorrências, 211 foram categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a própria Federação. O monitoramento contempla declarações públicas do presidente em suas transmissões divulgadas no YouTube, em sua conta pessoal no Twitter, em vídeos de entrevistas coletivas em frente ao Palácio do Alvorada e transcrições de discursos e entrevistas disponibilizadas no portal do Planalto.

De acordo com a Federação, para além de números, os dados mostram há a construção da imagem dos veículos de imprensa e seus profissionais como “inimigos” do governo, por noticiar ações do Executivo ou a postura do presidente, com o objetivo de promover a descredibilização do trabalho jornalístico.


Retrospecto
Entre os meses de janeiro e a primeira semana de março, antes do início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o presidente Bolsonaro se referiu ao trabalho da imprensa, por diversas vezes, como mentirosa, omissa, sem credibilidade ou confiabilidade. Bolsonaro afirmou que a imprensa atrapalha, é uma vergonha, deturpa, esculhamba, tripudia, produz notícias falsas e destrói reputações. No mês de fevereiro, profissionais de jornalismo também sofreram ataques misóginos, homofóbicos e xenofóbicos por parte do presidente.

Em 10 de março foi registrada a primeira ocorrência em que o presidente falou sobre a pandemia do coronavírus. Durante discurso em sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro afirmou que a mídia propagava “fantasia”. A partir desse momento, o trabalho jornalístico na cobertura jornalística sobre a pandemia também virou alvo do presidente. Segundo o chefe do Executivo, “grande parte da mídia potencializou em cima desse evento” e que o povo “foi enganado” por governadores e “grande parte da mídia” em relação ao coronavírus.

Acusou ainda os veículos de comunicação de “fabricar” crises contra seus ministros e incentivar manifestações contrárias ao seu governo e, por diversas vezes, atacou verbalmente jornalistas durante coletivas de imprensa e entrevistas. Além disso, em frente ao Palácio do Alvorada, estimulou reiteradamente que seus apoiadores agissem com hostilidade à imprensa e aos jornalistas. 

Violência contra jornalistas
Desde o ano passado a Federação vem contabilizando e denunciando os ataques do presidente contra à imprensa, o que, para a entidade “estimulam a violência contra jornalistas em coberturas diárias”. Já são vários casos de jornalistas que foram atacados por apoiadores bolsonaristas durante o exercício de sua profissão. 


Em abril, em São Paulo, o repórter Renato Peters estava ao vivo quando teve o microfone arrancado de sua mão por uma apoiadora do presidente.  No mesmo mês, em Salvador, ao menos dois repórteres também foram perseguidos por apoiadores de Bolsonaro. Em Porto Alegre, Fortaleza, Belo Horizonte também foram registras violências contra trabalhadores de veículos de imprensa. Em Brasília, jornalistas e repórteres fotográficos foram agredidos em coberturas de manifestações antidemocráticas e também durante pautas que envolviam a presença de Bolsonaro. 

Ação Judicial
A Fenaj, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, o Instituto Vladimir Herzog, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e as organizações Repórteres sem Fronteiras e Artigo 19 protocolaram no na terça, 30 de junho, uma ação judicial contra a omissão do governo Federal em promover medidas de segurança para garantir a atuação de jornalistas. 
A ação lembra que os ataques são estimulados pelo tratamento abusivo do presidente e ministros contra profissionais de imprensa, e também pede indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 300 mil.

Com informações da Fenaj

Via: ANDES-SN.