O cenário político brasileiro iniciou a semana em polvorosa depois que Bolsonaro indicou na última sexta-feira (19) o general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco que atualmente ocupa o cargo. Houve queda na Bolsa e aumento do valor do dólar, com o temor de que a medida signifique uma intervenção do governo e mudança nos rumos da estatal, uma das maiores petroleiras mundial.

A troca de comando na Petrobras ocorre num momento em que os preços dos combustíveis dispararam no país. Na semana passada, a empresa anunciou o quarto reajuste este ano no preço da gasolina, em 10,2%, e o terceiro no valor do litro do diesel, em 15,2%.

Com esses reajustes, o litro da gasolina nas refinarias acumula alta de 34,78% em menos de dois meses neste ano, e o diesel, 27,72%, no mesmo período, o que tem deixado o governo cada vez mais pressionado pelos caminhoneiros, que chegaram a anunciar uma paralisação neste início de ano.

A mobilização acabou sendo parcial, sem envolver toda a categoria, como foi no governo Temer, mas o clima de insatisfação é cada vez maior.

Além disso, pesquisas revelam que a reprovação do governo volta a crescer. Segundo pesquisa da CNT/MDA, a avaliação negativa do governo subiu mais de oito pontos percentuais, atingindo 35,5%, e a positiva caiu nove pontos, chegando a 32,9%. A desaprovação pessoal de Bolsonaro também aumentou oito pontos percentuais em quatro meses, chegando a 51,4%.

É neste cenário que, de forma populista, Bolsonaro anunciou a indicação do novo presidente da estatal com críticas à atual direção e ao preço dos combustíveis e fala em novas medidas nos próximos dias, sem especificar o que exatamente. Mas o fato é que as medidas anunciadas até agora por Bolsonaro, como a redução de impostos como PIS, Cofins e outros ou mesmo a troca do presidente da estatal, não resolverão o problema da alta de preços, já que as causas para a atual situação é outra.

O avanço da privatização da Petrobras

A disparada nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, que em algumas regiões passa dos R$ 100 um botijão, é reflexo direto da chamada política de PPI (Preços de Paridade de Importação), política de reajustes que leva em conta as variações do preço do barril de petróleo, o dólar e custos de importação.

Adotada na gestão de Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, no governo Temer, esta política atende diretamente os interesses dos acionistas estrangeiros que hoje controlam a empresa.

Segundo denuncia o Sindipetro-RJ, além da PPI, o projeto neoliberal aplicado na Petrobras tem avançado com a privatização na empresa o que também leva a que o mercado brasileiro fique refém de interesses privados e internacionais.

“Há um verdadeiro esquartejamento da Petrobrás e seus pedaços estão sendo vendidos a preço de banana. Exemplo disso é a recente negociação da RLAM, entrega das subsidiárias e outros ativos. Bolsonaro quer vender 8 refinarias este ano”, informou o diretor do Sindipetro-RJ e diretor da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) Eduardo Henrique.

“Num processo de sucateamento, refinarias têm operado intencionalmente com ociosidade. Com refinarias ociosas e uma política de preços favorável à importação, o mercado brasileiro acaba atendido pelas empresas estrangeiras e por importadores, o que também leva ao aumento abusivo no preço dos combustíveis. Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), em dezembro, as importações responderam por 13,7% da demanda por gasolina e 22,9% da demanda por diesel no Brasil”, explicou o petroleiro.

Petrobras 100% estatal e sob controle dos trabalhadores

A substituição de Castello Branco na direção da Petrobras ocorreu um dia depois do dia nacional de lutas protagonizada pela categoria petroleira em todo o país. Na quinta (18), ocorreram mobilizações em todas as bases da categoria em protesto com a venda da RLAM (Refinaria Landulpho Alves), da Bahia, e o processo em curso de privatização da estatal.

Para Eduardo Henrique, é preciso intensificar essa luta com unidade, rumo a uma greve nacional da categoria, para por fim à política do PPI e ao processo de privatização da Petrobras.

“O Brasil, que possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, o pré-sal, e uma empresa de tecnologia de ponta como a Petrobras, tem condições de garantir uma forte indústria nacional e preços baixos. Mas para isso o primeiro passo é acabar imediatamente com a política de PPI. Além disso, barrar a privatização em curso da Petrobras. Somente uma empresa 100% estatal e sob controle dos trabalhadores pode estar a serviço dos interesses do povo brasileiro e não de fundos de investimentos estrangeiros, que hoje controlam a empresa”, afirmou.

Via CSP-Conlutas.