O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, trabalhador negro de 40 anos, na loja do Carrefour, de Passo d´Areia, em Porto Alegre (RS), provocou vários protestos ao longo deste final de semana. Os atos exigiram justiça e o fim do racismo.

João Alberto foi espancado por um segurança e um policial no Carrefour na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, numa trágica ironia. As imagens da brutalidade se espalharam pelas redes sociais ainda na noite de quinta-feira (19), revelando o racismo estrutural existente na sociedade e a violência racista imposta à população negra.

Ocorreram atos em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e cidades como São José dos Campos, Santos, São Carlos, entre outras. Novas manifestações estão marcadas esta semana coincidindo com atos do Dia Nacional da Consciência Negra que tradicionalmente costumam se estender até o final do mês. Nesta segunda-feira (23), por exemplo, tem ato marcado em Belford Roxo (RJ), às 16 horas, e em Goiânia, em frente à unidade do Carrefour Sudoeste, às 16h30.

Nos atos, manifestantes erguiam cartazes com inscrições como “Vidas Negras Importam”, “A carne mais barata no Carrefour é a carne negra”, “Basta de Racismo”, “Parem de nos matar”, entre outras. Em algumas cidades, os manifestantes ocuparam os supermercados.

O CEO do Carrefour no Brasil, Noel Prioux, em pronunciamento na TV, lamentou a morte de Freitas e disse que a rede tomará medidas para combater o racismo. Entretanto, o caso não é o primeiro na rede, em que já foram registradas várias práticas racistas recorrentes.

No histórico da famosa rede de supermercados, há o caso ocorrido em 2009, no qual funcionários de uma loja da rede em Osasco espancaram um homem negro, Januário Alves Santana, pela suspeita de que estava tentando roubar um carro. Detalhe: o carro era do próprio Januário. Este ano de um promotor de vendas, que morreu dentro do supermercado em Recife, em agosto deste ano, foi escondido sob um guarda sol para não ser preciso fechar a loja.

“Morreu porque era negro”

Num tom duro, a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul declarou que, embora a morte de João Alberto Silveira Freitas ainda esteja sob investigação, o vídeo com as imagens do crime “falam por si”. “Morreu. Morreu porque era negro”, define a Defensoria. Uma afirmação acertada, afinal, o que se questiona é que se fosse um homem branco e rico, o tratamento não teria sido o mesmo.

Por outro lado, declarações de Bolsonaro e Mourão no final de semana minimizaram a gravidade deste assassinato e negaram o racismo existente no país. Em post nas redes sociais e declaração durante a reunião do G20, sem mencionar a morte de João Alberto ou se solidarizar com a família, Bolsonaro disse que é “daltônico”, pois não vê cor de pele, e que pessoas é que tentam criar tensões raciais no país. Já Mourão, simplesmente disse que no Brasil não há racismo. Um absurdo.

“Estamos vendo vários atos espontâneos, pois ninguém aguenta mais esse racismo que mata o povo negro todos os dias. É o racismo estrutural existente nesta sociedade capitalista, que é agravado por um governo como de Bolsonaro e Mourão, que estimula o preconceito, o ódio e a intolerância, e que leva a fatos como esse”, avalia Júlio Condaque, do Movimento Quilombo Raça e Classe do Rio de Janeiro e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

“Há novos atos marcados e essa luta precisa continuar. Nas ruas é que podemos enfrentar o racismo, o machismo e todos os ataques que governos e poderosos estão impondo a negros e negras, mulheres, LGBTs e toda a classe trabalhadora em geral”, afirmou.

Via: CSP-Conlutas.